terça-feira, 21 de julho de 2015

A Primeira Vez: O primeiro programa que escrevi!

Este sim, inesquecível!

Bom dia com vários tons de cinza na janela!
Meu tipo preferido de céu nublado!
Hoje é dia de abrir o baú das memórias.
Poderia dizer que foi o dia do nascimento em Informática.

Lista quase acabando!

primeiro carro
primeiro apartamento
primeira vez que ouvi Pink Floyd !!!
primeiro emprego
primeira internet
primeira demissão
primeira batida com o carro
primeira aprovação no vestibular (depois de duas tentativas, a terceira deu certo)
primeiro iPad
primeiro celular tijolinho
primeiro celular smart phone android de quase R$ 2000 (que absurdo!)
primeiro programa de computador
primeiro sistema vendido

O primeiro programa!
Para quem é "escovador de bits" de verdade, saberá muito bem o que isso significa.
E pensar que este primeiro conjunto de instruções em linguagem BASIC, está sendo executado até hoje!
Adoraria poder precisar o dia em que ele nasceu.

Mas não tenho esta lembrança tão perfeita assim.
Lembro de como e porque convenci minha mãe a comprar o primeiro mini computador de brinquedo.
Sim, aquele MSX era um brinquedo.
Não era um PC propriamente dito.

Tudo começou na época de escola.
Primeiro grau, acho que estava na terceira série.
Vejamos, o pré foi aos 5 anos.
Então estava com 8 anos... 

Morava perto do colégio, portanto ia e voltava a pé para casa.
Era uma boa caminhada, mas se fosse pegar ônibus, levaria 30 minutos para chegar.
Caminhando, eu fazia em 20.
Não era um muleque gordinho, portanto! (Hahaha)

No caminho de volta, passava em frente a um lugar cheio de efeitos sonoros.
Um dia resolvi entrar e ver que raios era aquilo.
Sempre curioso!
Era uma casa de jogos.

Chamavam aquilo de Fliperama.
Várias máquinas perfiladas, e algumas pessoas jogando.
Idades eram variadas.
Adultos e crianças se divertiam com aquelas máquinas sonoras.

Resolvi olhar mais de perto e me encantei com a variedade de cores, sons e tipos de jogos!
Também descobri logo que não era de graça!
Tinha que comprar fichas para fazer o jogo funcionar.
E se você não soubesse jogar direito, morreria logo e teria que pagar mais para continuar.

Ali começou tudo.
Foi aquela casa de jogos, que instalou o vírus da computação em mim.
Até então, eu não dava a mínima bola para eletrônica ou tecnologia.
Gostava sim de ler Tio Patinhas! Meu grande incentivador a entrar na Economia.

Passei a juntar moedas onde fosse possível.
Não ganhava mesada, e não tinha o hábito de ficar pedindo grana para minha mãe.
Afinal de contas, não era um filhote mimado de classe média ou alta.
Mas eu mantinha certa freqüência naquela casa de jogos.

E fui ficando bom no uso delas.
Tanto que conseguia fazer durar várias "fases" dos jogos, com apenas uma ficha.
Só fui parar de frequentar aquelas casas, depois de ter o meu computador em casa.
Em meus melhores dias de jogos, matava aula na escola, e ao jogar, notava que tinham dezenas de caras atrás de mim, olhando meu jogo.
Parecia torcida organizada! Eu amava aquilo.

A partir desta época, felizmente fui alfabetizado em inglês aos 13 anos.
Aí tive acesso a leitura de informática em seu idioma natural.
Não fazia sentido algum, ler livros de programação traduzidos para português, se todas as linguagens eram em inglês.
E havia outro detalhe: nas traduções, várias informações e detalhes técnicos eram perdidas, devido a redução de páginas por ordem das editoras.

Portanto, aprendizado bom, era nos manuais e livros originais mesmo.
Passei a gostar de ver as revistas de eletrônica nas bancas de revistas.
Aprendi logo cedo, que se você quer programar um computador, tem a obrigação de saber como ele funciona, e como foram construídas as memórias, circuitos e processadores lógicos.

Creio que fui precoce mesmo.
Bons tempos aqueles.
Minha vontade era FAZER os jogos que curtia jogar.
Esse foi meu primeiro e grande interesse em programação.

Para isso precisava ter um computador em casa.
E precisaria convencer minha mãe a me dar um.
Mas havia um problema... ela não era fã da minha mania por jogos.
Eu precisava achar um motivo digamos "profissional" para ganhar um computador.

Naquele tempo, minha mãe já era frequentadora das lotéricas.
Sempre gostou de matemática, e vivia fazendo seus jogos.
E sempre teve mania com números e datas.
Já dá para perceber, a quem puxei!

Eu tinha 14 anos, quando aproveitei uma notinha em um jornal.
Alí era na verdade um anúncio sobre um programinha que fazia jogos para loterias.
Hummmm, ali estaria a minha chance.
Poderia dizer que iria fazer um programa para jogar na loteria, e assim ganharia meu computador.

Toquei no assunto com minha mãe.
Expliquei que existia gente fazendo sistemas para aquilo e etc.
Um belo dia, passamos em uma loja e na vitrine estava um pequeno computador pessoal.
Era voltado para jogos, obviamente.

Consegui convencer minha mãe que poderia usar aquele aparelho, para escrever sistemas.
Minha mãe sempre tentava juntar dinheiro.
Fazia economias e guardava seus cruzeiros (faz tempo isso!) e dólares.
Em dólares, tínhamos US$ 250 guardados.


Foi exatamente este o preço do brinquedo preto chamado MSX.
Para minha mãe, era um investimento.
Para mim, era uma diversão, que sem perceber na época, seria minha profissão por mais de 20 anos.
Voltei para casa, agarrado na caixa do pequeno computador!

Foi uma ansiedade enorme ligar tudo e ver como funcionava.
Claro que vieram jogos nele!
Obviamente foi a primeira coisa que fiz com o MSX.
Horas jogando!

Mas a farra não iria ficar impune.
Minha mãe queria resultados!
Minha primeira cliente! E das mais exigentes obviamente.
Vieram dois livros com ele.

Devorei ambos e passei a imaginar como seria o primeiro programa.
As primeiras tentativas foram muito ingênuas.
Como tudo estava em português na caixa, eu experimentava dar ordens em português para ele!
Era uma mensagem de erro atrás da outra, naquela telinha azul com letras brancas.

Eu já tinha uma noção de algumas linguagens como Pascal, Assembly, Fortran e C.
Mas apenas noções básicas.
Nada a ponto de escrever alguma coisa.
Já havia visto listagens de códigos de alguns jogos também.

Portanto tive que aprender o Basic mesmo.
(acrônimo para Beginner's All-purpose Symbolic Instruction Code)
Tudo era tão chique na informática daquele tempo!
Decorei todos os comandos!

A tela ficava parecida com isso...



E como já havia lido livros de lógica, e programação estruturada, passei a desenhar o que seria o primeiro programa.
Foi de fato, pura invenção.
Eu não conhecia ninguém que programasse, e sequer existia o Google, para tentar copiar algo que outra pessoa tivesse feito antes.

Era começar realmente do zero.
O objetivo: criar um sistema que gerasse cartões para a loto.
Os parâmetros? fornecer as primeiras dezenas, e o programa deveria criar um número desejado de cartões.

Isso era totalmente diferente da matemática de combinações e fórmulas estatísticas.
Eu havia pesquisado sobre elas, e vi que seria possível utilizar estas equações dentro do programa.
Mas não gostava do resultado.
Não tinha liberdade de escolha.

Outros programas na época faziam isso.
Você era obrigado a usar centenas de cartões, para ter uma pequena aproximação de poucos números préviamente escolhidos.
Eu queria liberdade.

A inspiração veio ao assistir um sorteio na televisão.
Observei que cada dezena era sorteada em um globo com os números possíveis ali dentro.
Portanto imaginei criar o programa como se fosse uma simulação de cada globo.
E assim escrevi o primeiro código dele.

Elaborei uma fórmula para cada "globo", e fiz o mesmo "sortear" uma dezena por vez.
Pegava o resultado de cada globo, verificava se não havia repetido nenhuma dezena anterior, e fazia um cartão por vez.
Depois achei um meio de verificar se cada cartão seria diferente do anterior e assim por diante.

A primeira versão do programa, foi escrita no papel primeiro.
Aprendi a fazer sistemas assim.
Primeiro um diagrama de fluxo de dados.
Depois a codificação em folha.
A ultima coisa a fazer seria digitar no computador.

E o primeiro filho nasceu.
Na tela, o que se via eram cartões aparecendo sem parar.
Ele gerou infinitos números.
Não dava nem para ler!

Lógico que parei o programa e fui fazer ajustes.
Pronto, na segunda vez que rodou, ele pausava a tela para poder ler 22 cartões por vez.
Sob o olhar atento de minha mãe, eu esperava pelos primeiros comentários.
"Os números estão bons!"

Depois vieram críticas, sugestões e perguntas.
E vieram versões!
Acabei fazendo um programa para cada loteria existente.
Precisava achar um meio de salvar ou imprimir os resultados e por ai vai.

Pronto! finalmente havia saído o tal propósito para aquela máquina estar ali em casa.
Fiquei ajustando este programa por anos.
Ele deixou de ser executado no MSX e passou para o PC.
Depois deixou o Basic inicial para ser executado... dentro do MS-Word !

Isso mesmo, aquele editor de textos que a Microsoft roubou de alguém.
Sim, ele é muito bem feito, para ser um produto real da MS.
Assim como o Excel, eles certamente foram comprados (roubados) de alguém.
Este primeiro sistema funciona até hoje aqui em casa.

Se ganhamos na loteria com ele?
Isso é outra história.
Algumas quadras, sim, foram obtidas.
Algumas megas, sim também foram conferidas nas listagens dos cartões que NÃO FORAM jogados!

Hoje ele tem esta carinha...















Por questões de pura preguiça e praticidade, os resultados são impressos em documentos do Word mesmo.
Não quis me dar ao trabalho de fazer ele imprimir diretamente em cartões dos jogos.
Mas seria perfeitamente possível.

Cheguei a colocar um site no ar, para distribuir estes jogos.
Foi apenas uma pequena experiência, que já foi extinta.
Algum dia, quem sabe, alguém ganhará alguma grana com este brinquedo.

A sessão saudosista de hoje está concluída!
Boa terça a todos!

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