sábado, 18 de julho de 2015

A Primeira Vez: Aprovação no Vestibular

Não sou burro!!!

Boa tarde aos caros leitores!
Hoje um pouco mais tarde, por motivos felizes.
Ocorreu mais um micro milagre, e vendi mais um jogo!
Portanto fui logo cedo ao correio do centro da cidade.

Jogo postado, em breve, mais um comprador ficará feliz.
Para aproveitar a saída, uma passada no supermercado, e uma renovada na esperança de ganhar na loteria.
Minha mãe e seus joguinhos... esta será uma história a ser contada no post do primeiro sistema.

Descobri que não era burro, ao ver meu nome no listão dos aprovados do vestibular de 1993!
E foi na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
U.F.R.G.S. para os íntimos.
Era lugar apenas para os mais fodões entrarem.

Claro que a frase título deste blog tem explicação.
Não que eu me considerasse burro, besta ou anta na minha adolescência.
Eu sabia muito bem que não era tapado ou menos inteligente que ninguém.
Mas era uma situação de pressão.

E a maior pressão mesmo, era minha!
Eu achava que tinha obrigação de ter passado já no primeiro vestibular.
Era para ter sido em 1991 mesmo!
Minha mãe sempre fazia todos os esforços e sacrifícios para que eu tivesse uma boa educação.

Cheguei a estudar em colégios de mauricinhos antes da oitava série.
Nunca me dei bem com eles.
Nunca gostei de gente esnobe.
Mas também não gostava o outro extremo. A marginalidade não me atraiu em momento algum.

Quando fui encarar o primeiro vestibular, tinha uma certeza de que iria passar.
Nunca fui um NERD ao ponto de estudar por horas e tirar 10 em provas.
Na verdade, como eu achava tudo fácil, deixava para estudar apenas nos dias antes das provas.
E sempre passava por média.

Preguiça? Soberba? Arrogância? Quem sabe um misto de tudo?
Não era nada disso.
Apenas achava que não era preciso passar semanas decorando coisas, que eu achava que poderia ver no último dia e pronto.

Nunca reprovei um ano de estudos.
Rolou um quase...
No segundo ano do segundo grau, eu me superei.
Abusei ao máximo da prática de estudar somente no último dia antes das provas.

Eram 12 matérias.
Passei por média em duas... Educação Física e Religião! ( Eca )
Nas outras dez, todas abaixo da média.
E algumas, precisando tirar 9 na prova de recuperação.

Foi a festa da turma.
Fizeram bolão de apostas.
Todo mundo achou que eu não passaria do primeiro dia de provas.
Os professores me olhavam com cara feia.

Diziam que era uma vergonha eu estar ali fazendo DEZ matérias na recuperação.
Pois bem.
Fui para casa e resolvi estudar uma semana inteira antes das provas finais.
Aquilo era uma diversão só.

Não estou falando de estudar.
Nunca fui muito fã de ficar sentado em cima dos livros do colégio.
Se fosse de informática, ai sim eu devorava tudo e queria mais.
Só de os da escola, arghhhhhhhhh.

Primeiro dia de prova, matei duas!
O bom era que o professor corrigia a prova na sua frente e já dizia se tinha passado ou não!
Já estraguei as apostas de alguns, por passar vivo para o segundo dia de provas.
E  assim foi indo.

Algumas das matérias, eu precisava apenas de meio ponto acima da média para passar.
Por isso alguns professores me xingavam mais ainda.
Diziam que era pura preguiça minha, ter ficado em tantas matérias.
E fui passando!

Sexta-feira! Último dia das provas.
Ninguém mais achava que eu iria rodar de ano!
O bolão das apostas havia ido para o espaço.
Afinal, a grande maioria apostou que eu cairia no primeiro dia.

Mas ninguém achou que eu iria fazer todas as dez provas.
Mas... eram Química e Matemática.
Sempre odiei química.
Mas sempre adorei matemática.

Fiquei devendo 1 ponto em cada uma.
E deu merda mesmo...
Iria ter que fazer o segundo ano novamente... reprovado pela primeira vez na vida!
Só que não.

Naquele fim de ano, minha mãe se revoltou e me matriculou em uma escola particular.
Na tal escola, eles faziam o esquema de dependências.
Ou seja, eu poderia cursar o terceiro ano, e faria as duas matérias como dependências.
Não precisei repetir um ano inteiro.

O objetivo era mesmo entrar logo na faculdade.
Portanto não poderia perder um ano.
Mais tarde, veríamos que o esforço não valeu a pena.
O tal colégio era porco demais em matéria de conteúdo.

Praticamente não tive matérias novas, ou aprendizado novo.
Tudo que eles passavam nas salas, era matéria velha para mim.
O nível deles era um horror de fraco.
E nem precisava estudar para fazer as provas.

Era surreal... Todo mundo tirava DEZ.
Sim, 40 alunos na sala.
Todos faziam a prova em grupo.
O professor simplesmente saia da sala.

E todos aqueles alunos, estudavam juntos desde a primeira série do primário.
Era um absurdo.
Somente 3 colegas que vieram de outra escola... eu e mais 2.
Estranhamos tudo aquilo.

E fomos os únicos a não tirar dez em tudo.
Pois resolvemos não colar como todo mundo.
Ficávamos com notas 8 a 9.
E os professores debochavam da gente, dizendo que éramos os mais atrasadinhos da turma.

Não estou inventando!
Este colégio existiu!
Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre - RS
Tive colegas que sequer apareciam para fazer a prova final... e eram aprovados com média DEZ.

Porque tudo isso?
Ah, eram filhos de políticos, jornalistas, empresários.
Este era o motivo daquela pouca vergonha toda.
Tive que fazer meio ano de cursinho pré vestibular para ter melhor chance de encarar o vestibular.

Acabou o segundo grau. Primeira parte da obrigação cumprida.
Chegou a época de fazer a inscrição no vestibular.
Toda aquela onda de cursinho tomava conta da cidade.
Fiz logo o mais badalado. Era quase um culto naquelas salas.

O famoso Unificado, era o maior e melhor cursinho de vestibular do estado!
Os professores eram como estrelas, viviam nas rádios e tvs.
Faziam palestras e até aulas de revisões em ginásios.
Tudo pelo marketing.

Mas verdade seja dita, eram bons de verdade.
Tinham muito mais conteúdo naqueles livros do cursinho, do que em todo o segundo grau somado!
Realmente tinham os maiores índices de aprovações na faculdade federal.
E o bixo era feio... mais de 40 candidatos por vaga, nos cursos mais procurados.

Adivinhe se o meu curso não estaria da lista dos mais difíceis...
Computação tinha 36 cabeças por vaga naquele ano.
Perdia apenas para medicina, direito e psicologia.
Era fogo.

As provas eram com 35 questões, 9 provas ao todo.
E mais uma redação de arrancar o couro.
Para entrar em Computação, era preciso estar bem acima da média em todas as provas.
Não bastava acertar 20 pontos em cada uma.

Precisava pelo menos uns 30 em cada, e matar a pau na redação.
Eu fui bem.
Estava com média acima em todas.
Na redação, fiquei com 80% dos pontos.

Mas era o destino...
A maldita prova de química...
Tinha que dar merda ali!
Existia um mínimo de acertos para cada prova. 9 questões.

E fiz o belo favor de acertar 7!
Desgraça!
Foi todo o esforço jogado fora.
E claro, uma bela decepção para minha mãe, que tanto queria me ver na faculdade.

No dia da prova, quando saiu o resultado das questões... fui conferindo uma a uma...
E vendo o monte de questões erradas...
Foi dando uma mistura de ódio e desespero.
Ali, chorei mesmo de raiva!

Primeiro vestibular, primeira paulada na cabeça.
Me sentia um incompetente.
Quase ameba!
Tive um pequeno consolo... NINGUÉM DO COLÉGIO HAVIA ENTRADO EM NENHUMA FAC!

Sim, fiquei sabendo disso depois, e sorria o dia inteiro.
Nenhum daqueles caras que só tiravam dez na base da prova coletiva, haviam sido aprovados em vestibular algum.
Esse foi o resultado de ter uma vadiagem institucionalizada naquela escola.

Fiquei seis meses longe de qualquer livro de colégio ou cursinho.
Estava com raiva de estudar.
Foi um ano praticamente inútil.
Tanto que sequer lembro do que fazia naqueles dias.

Veio o segundo vestibular...
Novamente queria Computação.
Novamente eram mais de 36 por vaga.
A luta seria mais difícil ainda.

Me vinguei da prova de Química!
Arranquei quase 20 pontos naquela desgraçada!
Melhorei bem em matemática também.
Para ter uma idéia da dificuldade que era aquela prova, a média era de 9,45 acertos!

A prova de matemática era o grande divisor de águas.
Era questão de sobrevivência mesmo.
E consegui uns 12 pontos na maldita.
Mas infelizmente... meu desempenho nas demais provas caiu.

Onde eu tirava quase 30 pontos, consegui apenas 25.
E isso matou as chances de entrar em um curso são concorrido.
Fiz pontos para passar em mais de 90% dos cursos da Universidade.
Mas não para o que eu estava inscrito.

Ali, comecei a me achar tapado...
E mais um ano foi perdido.
A vergonha aumentava.
Fazer vestibular na Puc? Nem pensar!

Meu erro estratégico foi pensar que estudando apenas matemática, física e química, eu passaria.
Ignorei as demais matérias.
E o resultado foi a segunda reprovação.
Outras noites de cabeça inchada...

Mas veio o terceiro vestibular.
Aquele foi mais emocionante ainda.
Filas gigantes!
E veio a notícia estampada nos jornais...

A Universidade Federal bateu o recorde de inscritos para o vestibular de 1993.
Eram 3480 vagas...
Mais de 70 mil inscritos, e o número não parava de subir!
Caralho! Gritávamos na fila de inscrição, com os jornais na mão.

E ali estava eu, com a ficha preenchida...
Primeira opção - Computação novamente.
Segunda opção - Economia. minha outra paixão literária.
E o frio na barriga.

Um amigo me disse na fila... que era praticamente impossível entrar em algum curso, usando a segunda opção.
Pois mesmo que fizesse mais pontos que todos os candidatos daquele curso, precisaria SOBRAR vaga para poder entrar.
Então... ali mesmo naquela fila que durava mais de 4 horas... rasurei a ficha de inscrição.

Toquei os cursos de ordem.
Primeira opção passou a ser Economia.
Sem saber, ali eu estava passando em meu primeiro vestibular!
Horas depois em casa, veio a confirmação no jornal.

Era mesmo o maior número de candidatos do vestibular.
Um recorde!
E fiquei aliviado ao pensar que para Economia, eram apenas 20 por vaga!
E não a loucura de quase 40 para Computação.

Pois bem, guardei todos os livros.
E parei de estudar.
Era Setembro.
As provas eram em Janeiro de 1993.

A vadiagem e a preguiça, e agora sim, a arrogância cobram preços caros.
Fui encarar as provas no maior clima de já passei!
Primeiro dia, Português e Redação.
Como de costume, matei a pau nas duas.

Veio a prova de Química e Matemática.
A Desgraça !!!

Ali foi o desespero completo!
Fiz 15 pontos em química... Ok até.
Mas fiz 9 em matemática!!!
Era o mínimo para escapar da reprovação!

Mas tinha que ter feito merda logo ali?
E agora? Como iria fazer?
Todo mundo falava que era impossível entrar em um curso razoávelmente disputado, com 9 em matemática.

O desespero bateu e foi feio.
Abri um armário, caixas foram removidas de sarcófagos!
Um bando de livros de cursinhos e apostolas!
Agora essa porra vai dar certo!

Virei todas as noites estudando.
Faltavam ainda 5 provas!
E teria que tirar o máximo possível de pontos em todas.
E o medo?

A simples idéia de fazer 3 vestibulares e não passar... me parecia mais que fracasso.
Era como se fosse um débil mental declarado.
Eu me cobrava muito por aquilo.
Não iria ter como explicar a perda daquela vaga.

Terminadas as provas...
Consegui levantar as médias nos dois últimos dias.
Mas ainda ficava o medo daquele maldito 9...
Será que teria sido o suficiente?

Foram longas duas semanas até sair o resultado.
Agonia era pouco...
Ficava sozinho em casa... inquieto.
Foi em um sábado...

Uma vizinha apareceu na porta de nossa casa simples, alugada em um terreno de fundos em uma das vilas mais perigosas da cidade.
Sim, eu era um digno morador de vila, não favela.
Mas nosso bairro era conhecido como o centro de tráfico mais perigoso da cidade.

Aliás, polícia nunca entrava ali.
Passavam apenas de helicóptero.
Eu era escoltado as vezes, por vizinhos amigos do tráfico, para entrar e sair da minha rua.
Quando mudamos para lá, fomos recebidos por 765 douradas nas cinturas dos vizinhos.

Lembro até hoje da primeira noite que dormi naquela casa.
Roubaram minha toalha de estimação do varal.
Era o cartão de boas vindas deles.
Mas depois, nenhum incidente a reportar.

Ah, vizinhos queriam me vender aquelas 765... (confesso que deu vontade de comprar)

Pois bem, uma vizinha entrou pela área de serviço, e me chamou na porta da cozinha.
Ela gritava dizendo que era para eu pegar o jornal na mão dela.
Me disse que minha mãe havia ligado do trabalho, pedindo que me entregassem o jornal.
A lista dos aprovados...

Meu nome estava lá!
Era eu mesmo!
Puta que Pariuuuuu eu gritava no chão da sala... em frente a tv...

EU NÂO SOU BURRO!

Era apenas isso que eu conseguia dizer!
Era um peso do caralho que desaparecia das costas... ou das orelhas de burro que eu já achava possuir.
Quase chorei naquela hora... quase.

Logo depois, aparece um maluco amigo do colégio do terceiro ano!
Veio gritando que eu era o PRIMEIRO da turna a ter entrado da faculdade federal.
Ah vai, aquilo nem me levantava o moral. Rsrsrs.
Mas fomos dar uma volta para comemorar.

Ele me levou no centro, para ver minha mãe.
Ela estava feliz.
Acho que pela primeira vez em muito tempo, ela ficava feliz com algum que eu tenha feito.
Aliás, ela queria comprar uma faixa para colocar na frente da casa.

Não deixei.
Disse a ela que entrar na faculdade era minha obrigação.
Que filhos de famílias de baixa renda tem obrigação de conseguir estudar em faculdade pública.
Faixa, eu iria querer somente depois de formado!

Pois bem, a tal faixa não veio até hoje.
Mas curti muito aquele ano de 1993.
Realmente foi um dos melhores da minha vida, até então.
Tomara que possam vir outros iguais ou até mais felizes.

Moradores do nosso bairro, me cumprimentavam no ônibus.
Quando eu ia para as aulas... me diziam que somente eu havia entrado na federal, sendo membro daquela "comunidade".
E eu sequer conhecia aquelas pessoas!

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