sábado, 30 de abril de 2016

Memórias de um GP Brasil de F1 - Sábado

Acordar cedo é bom, ainda mais com corrida

Bom dia aos fãs de velocidade, e também do nosso Red Planet Ex PEA!
Diário de Bordo Estelar #327 acordando cedo, ao som dos motores!
Claro que o som dos F1 de 2003 eram bem mais empolgantes do que os atuais.
Ainda bem que as memórias são bem vívidas.

Este final de semana nos trás uma lembrança ruim, de uma tragédia.
Mas procuramos nos lembrar das vitórias, disputas e conquistas do ídolo.
Mais importante é perceber que a cada ano, a presença de Senna permanece.
Em vários países, sua memória se mantém viva. Isto é para poucos.

Primeira vez em Interlagos 2003 - Sábado
Acordar em um hotél, nem sempre é tão bom quanto em nossa própria cama. Mesmo que a cama seja melhor que a sua, o ambiente é diferente. E acordar as 5:00 ainda cansado, não é lá muito agradável. Aquele sábado começou com toques do despertador do celular, mais do relógio e ainda o telefone! Tudo para não perder a hora do café, e muito menos o ônibus! O banho ajudou a terminar de acordar! Tudo feito na correria e com preocupação em não esquecer nada! A câmera fotográfica e o kit de viagem eram essenciais. Ao chegar no primeiro andar, a primeira sensação diferente. Era um mar vermelho. Parecia a torcida uniformizada da Ferrari. Alguns divididos entre Barrichello e Schumacher.
Eu não estava nem ai para nenhum destes. Minha torcida era para o herdeiro natural de Senna - Montoya! Isso mesmo, sempre considerei o colombiano, o piloto mais próximo do estilo de Senna. Sempre com a faca entre os dentes, sempre atirado e não respeitando ninguém. Assim que piloto bom deve ser. Instinto predador, tal e qual o Senna mostrava em todas as curvas de todas as pistas em que corria. Não entendia o motivo da torcida local, vaiando Montoya. Era uma demonstração de cretinice ou estupidez pura. Talvez uma espécie de birra, como a que costumam ter com os argentinos. Ignorância absoluta. A memória mais adorável de Montoya, foi em seu ano de estréia, no S do Senna, quando ele simplesmente passou por Schumacher de forma arrasadora, jogando o alemão para a grama! Impossível não ver ali o espírito de Senna!
Voltando ao café, a preocupação era grande, pois não tinha a menor idéia de como seriam as condições no autódromo. Se iria ter o que comer ou não. Portanto tive que mandar ver no café, e comer com pressa! Não tive a brilhante idéia de fazer uma cesta de piquenique para levar, como vi pessoas fazendo lá no local... Arrependimento já bateu ali. Correria para o ônibus, novamente com preocupações pois os organizadores do pacote maldito sequer se preocupavam em nos agrupar. Achei o caminho graças as sacolas da agência. Ao entrar no ônibus, a ansiedade aumentava! Iria finalmente conhecer Interlagos, e iria ver e ouvir pela primeira vez ao vivo, um carro de F1.
O passeio de busão durou pouco mais de uma hora, e nos deixaram na frente do portão de acesso ao setor A. Novamente a preocupação veio, pois o motorista não sabia onde iria estacionar, para nos levar de volta ao hotél. Grande organização do evento. Os dois responsáveis pela agência me disseram que era para ficar de olho neles, assim não perderia o ônibus de volta. Que na hora de sair, eles iriam achar o motorista! Dava vontade de surrar os dois. Até aquele ponto, nada de ingressos. Como era dia de treino classificatório, teríamos que ficar no autódromo até os treinos terminarem, após as 14:00. Portanto, nada de almoço cedo. Na frente do portão, finalmente vimos os tais ingressos. Ufa! Era um ingresso válido para os três dias! Ou seja, pagamos por 3, levamos 2.
Já estava decidido! Nunca mais faria uma viagem daquelas, por agência de turismo! Pagamos mais caro para ver os 3 dias de evento, e chegamos somente na sexta-feira a noite. Perdemos um treino e nada de reembolso. Tudo isso foi esquecido, no momento de passar pela catraca! Grupo de viagem que nada! Ao entrar, cada um por si e todos saíram correndo! Não existiam lugares marcados na arquibancada fria de concreto. Era cada um se virando para achar um ponto bom para ver o máximo possível. Coração a mil, fui andando, sem correr, para a direção da pista. Ali estava a reta dos boxes! Desci todos os lances da arquibancada e segurei a tela de proteção! Não estava me importando em guardar lugar em algum ponto. Queria estar o mais próximo da pista.
Fiquei segurando a tela por alguns segundos, olhando para os boxes, para a pista, para tudo que podia enxergar. a pulsação foi baixando, a garganta fechando, a cabeça pesando. Estar ali, era um sonho muito antigo. de 1980 a 2003 foi um longo caminho. Quando pensei que estava dez anos atrasado, chorei. Eu queria ter estado ali, naquele mesmo ponto, vendo Senna vencer em casa. Ficava me lamentando por não ter conseguido estar ali em 93 ou 91 ou em todos aqueles anos. Já estava sentado no chão, sozinho e com olhos inchados, quando resolvi explorar mais o local. Fui até o final do Setor A, separado por uma mureta e mais telas, do Setor B, onde os ricos ficavam. A diferença era que no Setor B, existiam monitores, sistema de som, salgadinhos, e ficava em frente ao pódio e a linha de chegada.
Ao estar ali, percebi o quanto a reta é inclinada. Realmente uma subida! Lá no Setor A, era possível ver quase todos os pontos do circuito. Na verdade, só uma coisa ficava fora do alcance: O S do Senna. Justo ele! Mas ao pensar no custo-benefício, era o melhor ponto para se ver a maior parte da pista. Já eram 9:00, e o sol castigava. Na sacolinha haviam um celular, uma carteira, uma capinha de chuva, folhetos, o ingresso, protetor auricular, rolos de filme e a câmera! Já estava tirando fotos feito louco. Havia levado seis rolos de 36 poses. E estava resolvido a gastar todos eles! Ganhei uma bela insolação e queimei o lombo. Já estava sem camisa e os ombros ferviam! Mas estava feliz, e ainda soluçava um pouco da choradeira inicial. Foi quando aconteceu o primeiro contato! Ligaram os motores nos boxes...
Senti cada pelo do corpo se mexer! Arrepio até a nuca. Não havia nada parecido com aquilo. Nada chegava perto! o barulho era assustador à primeira audição! Parecia que existia um motor dentro dos tímpanos. E aquilo era apenas o começo. Os carros sequer haviam saído dos boxes. Quando o primeiro carro amarelo, da Jordan, percorreu a reta oposta, que fica na frente do Setor G, o do povão, pois era o ingresso mais barato, fiquei espantado. O carro estava tão longe, e o motor dele seguia dentro dos meus ouvidos! Era loucura total! Não queria mais sair dali! Sequer sentia mais as dores de queimado nos ombros! Todos os meus sentidos estavam fixados, conectados aquele carro se movendo. Eu ainda não podia ver ele, mas o seguia com os ouvidos. Parecia que eu já estava fora de meu corpo, e o seguia pelas curvas e retas, só reagia a aceleração do motor.
Quando o carro passou pelas curvas do Café, Pinheirinho e subiu a Junção, os sentidos se unificaram e multiplicaram as emoções. Ele passou na minha frente! O chão tremeu! Era o êxtase absoluto! Não apenas o som era atordoante, mas o corpo reagia as vibrações do chão! A cada troca de marcha, sentia a explosão do motor, sentia o cheiro da gasolina misturada com fumaça, e o chão ainda tremia. Somente uma coisa poderia superar tudo aquilo: estar dentro do carro, correndo sem parar, curvas após curvas! E eu achando que já havia experimentado as maiores emoções... Sequer imaginava o que viria no dia seguinte! E as fotos eram tiradas a cada segundo! Não poderia perder nada do que acontecia! Logo já tive que achar um lugar e me manter nele, pois o povo chegou e preencheu os espaços. A interação com a torcida foi interessante. Nada parecido com futebol. Mas o fanatismo era o mesmo. E os ânimos também. Se não guardasse bem seu lugar, poderia até apanhar. Testemunhei algumas cenas lamentáveis, de adultos se pegando por causa de um pedaço de papelão para sentar no chão...
A fome bateu, e o desespero também, pois a única opção existente eram dois trailers adaptados de uma companhia aérea. Eles traziam comida dos aviões... ou seja, eram apenas pedaços de pizza e misto quentes congelados. Guaraná, água ou cerveja da schin. Coitados de nós. Estávamos fudidos! Ali percebi o motivo de várias pessoas estarem com grandes caixas de isopor, cheias de comida! Pois se você entrava ali cedo, só poderia sair à tarde! Quem não viesse preparado, iria passar fome, calor, frio, sede, dores, e ainda poderia sair no braço com alguém, por causa de disputas de lugar. Puta programa de índio, realmente. Se fosse repetir a dose, teria que ir muito melhor preparado! Mas nada disso importava na hora em que os carros passavam na minha frente! À medica que fui acostumando com os sons, pude diferenciar motores e carros. De fato, Ferraris tinham um ronco diferente dos BMWs, Fords e Renaults. Cada um tinha seu charme, timbre e potências distintas. O êxtase permanecia.
A galera foi a loucura quando Rubinho fez a pole! Parecia que tudo iria desmoronar com tanta gritaria e histeria coletiva. Novamente chorei ao fazer o coro de "Olê olê ôlá, Sennáaaa Sennáaaa". Aquele clima parecia infinito. Pessoas estranhas, sem nunca terem se visto antes, abraçadas e chorando. Todas com o mesmo pensamento, mesmas lembranças. Já estava morrendo de fome, dores, queimado de sol e pés inchados, e tirando fotos sem parar. Logo estávamos procurando o maldito ônibus para ir embora. Eles tiveram a bondade de nos pegar na frente do portão! Que alívio. Já eram 14:30 e só uma coisa vinha a mente: comida! E depois, mais roncos dos motores! Estava completamente viciado naquilo! Mais uma hora e meia de trânsito até chegar no hotél. Tomei um banho demorado e pedi um lanche no quarto mesmo. Comi aquilo como se fosse a primeira refeição em meses!
Dormi a tarde toda, e depois fui jantar com um casal de amigos, em um shopping na Av Paulista. Foi um ótimo final de noite, para me preparar para a grande maratona do dia seguinte. Ainda seguia sem imaginar o que iria acontecer. A janta e os papos estavam ótimos, o que acabou me deixando no hotél, quase a meia noite. Ou seja, outra noite de cinco horas de sono, no máximo! Ainda me sentia cansado e faltava mais um dia da maratona. Preparo físico se faz necessário para uma aventura destas! Tudo isso só me deixava com mais revolta em relação aqueles convidados VIPS. Estes cretinos sequer pagam seus ingressos, e ficam com todo conforto. Injusto! Mas a vida é assim mesmo.
Este foi o sábado, anterior ao tumultuado GP do Brasil de F1 2003.
Morto de cansado, mas ainda na maior empolgação.
Ansiedade era enorme para o dia de corrida!
Ainda não passei as fotos para o PC, mas tenho que fazer isso hoje sem falta!

Atualizando com algumas fotos!












































Carpe Diem!


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