domingo, 1 de maio de 2016

Memórias de um GP Brasil de F1 - Domingo

Just Another Racing Sunday?

Bom dia caros leitores de nosso espaço Red Planet Ex PEA!
Diário de Bordo Estelar #328 acordando cedo neste Domingo frio.
Mais um daqueles finais de semana, fechando um mês, abrindo outro.
Dia do Trabalho, sem a menor importância, pois a lembrança que marca é outra.

Desde 1994, este dia ficou marcado, e sempre permanecerá nas mentes de milhões.
Cada um com suas lembranças, intensas na medida de cada indivíduo.
Sorte daqueles que possuem recordações de convivência com o ídolo.
Para os demais, restam as memórias das fontes de informações à distância.

Qualquer corrida que aconteça hoje, terá uma sensação de saudades, falta, imaginações.
Certamente muitas pessoas fizeram o exercício do "Se".
O que teria acontecido, se o acidente não tivesse sido tão grave.
Para mim, seriam pelo menos mais 2 títulos mundiais para Senna, no mínimo!

Todos sabemos que o "Se" não entra em campo, ou pistas.
Hoje é dia de recordar, buscar coisas positivas e inspiradoras.
Dia de manter aceso este vício por automobilismo.
Dia de torcer por duas grandes corridas, na Rússia e nos EUA, dia de Talladega!

Primeira vez em Interlagos 2003 - Domingo
Acordei aos gritos dos despertadores, com uma bela enxaqueca, causada por insolação, eram dores por todos os lados. Pensando bem, aquela cama era bem ruim, considerando que era um hotél "conceituado", e lotado em dias de GP. Não adiantava reclamar, era o tão aguardado dia da corrida. Foi a mesma rotina do café anterior. Com uma diferença! Agora já sabia que teria que comer muito mais mesmo!!! Aquele sanduíche frio com guaraná não seria o bastante para suportar as horas de castigo na arquibancada. Mas Domingo era dia de outro componente impiedoso... A chuva!
A pontualidade foi mantida e saímos no horário previsto de 06:00. O motorista resolveu dar um espetáculo a parte. Foi xingado em coro por todos, de "Rubinho, Rubinho" apenas pelo fato de ter se perdido, e nos fez atravessar a Marginal Pinheiro duas vezes pelo lado ERRADO, para depois achar o caminho de Interlagos. Era tudo clima de festa. Mesmo assim, chegamos no portão A, 7:20. Ali foi a visão do inferno. A FILA! Era gente que não acabava mais. Ao me aproximar, um maluco segurou meu braço e foi me puxando. Ele dizia alto: "Aqui, guardei seu lugar no começo da fila!", e cochichava depois: "Dez Reais e te coloco no começo!".
Povo Brasileiro, corrupto para todo o sempre, em todos os lugares. Me senti muito constrangido ao olhar para todas aquelas pessoas, e não aceitei a proposta indecente do cara. Horas depois, me arrependi tanto... Foram 30 minutos caminhando, até chegar ao final da fila! Ali foi cair a ficha, de quanto custa pagar pelo segundo lugar mais barato do autódromo. Aquele momento foi de repensar os custos e benefícios. Paguei R$ 650 por aquele ingresso. O Setor G, da galera raladona, custava R$ 480. O deles era pior ainda. Ficava totalmente exposto ao sol e chuva, em arquibancada de madeira. Já no Setor B, nosso vizinho, era só pagar R$ 2000 que tudo era garantido, desde visão do pódio até comida, e nada de sol ou chuva.
Não adiantava nada ficar pensando naquilo, pois a fila começou a andar, as 08:00. Logo pudemos ver um mendigo pulando o muro! Todos ficaram curiosos para ver se ele iria conseguir. E o cara conseguiu! Aquele iria ver a corrida de graça! Mais alguns metros adiante, havia uma casa, espécie de sobrado, com uma sacada inteira para o lado de dentro do muro. Varias pessoas ali, se divertindo, com binóculos, salgadinhos, bebidas, e certamente não pagaram R$ 1680 por um pacote de viagem para estar ali... Era a chamada "Corrida na Lage", com direito a churrasquinho, sabe-se lá de que. Mas estavam todos felizes. E a fila andava... Era um ritmo lento, que meia hora depois foi explicado.
Os PMsdeMerda estavam revistando tudo e todos, com detectores de metais. Por isso a demora foi um pouco maior, para entrar. Depois foi a correria para achar um lugar. Para minha revolta, haviam pessoas que dormiram lá dentro, para guardar lugares! Quanta organização, bem coisa deste paizinho subdesenvolvido mesmo! Consegui achar um lugar, sem brigar, pois estava vestido de forma estratégica! Fui com uma camisa 10 do Corinthians. Óbvio que fui muito bem recebido junto ao povão que ali já estava. Até fui agraciado com um seguro de lugar, quando fui comprar lanche e bebida. A camisa está guardada até hoje, como relíquia do evento! Vale lembrar que havia ido em uma excursão de gaúchos, onde só haviam camisas de grêmio ou Inter-RS espalhadas entre os ferraristas. Portanto eu era mesmo o "diferente" do grupo.
Ansiedades a mil, e um frio do cacete! Depois de ficar queimado do Sol no Sábado, veio o castigo. Um vento parecido com os do Sul, cortando a nossa cara, e a porra da chuva veio nos brindar! Eu tremia, já nem sabendo se era de frio, fome ou cansaço de ficar todo o tempo em pé. Minha preocupação era se iria perder os filmes da câmera, o celular ou os trocados na carteira. A tal capinha de chuva, apelidada de "camisinha" por todos, não dava conta do recado! Mas, tudo isso desapareceu, quando os carros vieram dar um passeio. Lembrando que a largada era prevista para 14:00... Ainda iríamos sofrer bastante. A chuva caiu antes das 10:00. Ficava pensando, no que fazer por mais 4 horas.
Claro que várias fotos foram tiradas, de qualquer coisa. Das árvores, do pedaço de reta à minha frente, do ponto mais longe na reta oposta, apontava e clicava. Era o que tinha para fazer. A maior sensação do final de semana foi mesmo quanto o relógio marcou 13:59. Todos os carros alinhados para a largada, acelerando os motores. Aquilo explodiu na mente. Foi muito maior do que ver apenas alguns carros correndo há poucos metros de onde eu estava. O som era assustador, parecia que o chão iria abrir e nos mandar para os ares, tudo estava vibrando, tremendo e não se podia escutar mais nada! Quando os carros passaram pelo S do Senna, veio uma espécie de vácuo. Nada de barulho, apenas um vazio, mudo, pensei que estava surdo na hora. Depois os efeitos sonoros foram sendo percebidos.
E a primeira volta era completada, por uma Ferrari na ponta, e não era do Alemão nojento! Delírio completo na galera. Todos gritando feito loucos. Pulávamos, fazíamos a festa! Chuva? Frio? Fome? Que se dane tudo! Naquela hora, nada mais importava! Novamente, a garganta fechava, mas segurei o choro desta vez. Ensopado, dolorido mas feliz por estar ali vendo tudo aquilo ao vivo. E muito drama pela frente ainda. O Alemão nojento se fudeu ao rodar e sair da pista, em frente a nossa vista! Fomos ao delírio! O coro durou alguns minutos. Para todos os italianos da Ferrari entenderem... "Eu eu eu, o Alemão se fudeu!". O box da Ferrari era o primeiro e ficava quase à nossa frente.
Eu testemunhei, 4 mecânicos vieram na pista de rolagem, e nos xingavam! Apontavam os dedos para nós, como se estivessem dizendo: "Vocês vão ver, iremos nos vingar"... A vingança veio, dignamente à moda da máfia italiana. Estou convencido, eles deixaram Barrichello sem gasolina, de propósito! Pude ver o ódio nos olhares daqueles caras de vermelho. Se Barrichello tivesse vendido aquela prova, iria assumir a liderança do campeonato, deixando o Alemão nojento com zero pontos na etapa. E a próxima corrida seria na Itália. Os caras realmente se vingaram. Quase no final da corrida, o brasileiro liderava a prova, e encostou o carro, com pane seca. Os mesmos 4 caras voltaram à nossa frente, e davam gargalhadas, apontaram novamente os dedos, e nos xingaram muito.
Duvido até hoje, que isso tenha sido mostrado na televisão, pois não vi registros disso em lugar nenhum! Mas ficou claro, que eles se vingaram. O ar era de tristeza e desânimo geral na galera ao meu lado, até que veio aquela porrada! Foi a poucos metros de onde eu estava. E fotografei tudo feito doido. Uma Jaguar, de Mark Webber se arrebentou no lado oposto de nossa mureta, e saíram peças e rodas voando! Foi um estouro nos tímpanos. Meu primeiro GP e já pude testemunhar um acidente bem de perto. O piloto saiu sozinho do carro, e acenou para nós! Foi uma gritaria geral. Parecia um herói de guerra, sendo aclamado pela plebe, no Coliseu Romano.
O acidente envolveu vários carros, a acabou com a corrida. Simplesmente nem teve bandeirada para o vencedor, que teve sua vitória confirmada semanas depois! Fisichella foi receber o troféu, na etapa seguinte! Coisas de um GP super bem organizado... Ficaram discutindo em qual volta a corrida seria considerada oficialmente encerrada. Por isso a discussão sobre o vencedor demorou tanto... Coisas do esporte. Pontualmente, 16:30 estávamos saindo correndo, pois o bando da agência nos fez correr para não perder o ônibus. Só deu tempo de chegar no hotel, e pegar as coisas e voltar para o ônibus! Estava com roupas todas ensopadas! E nem banho pude tomar. No ônibus, foram nos dar as passagens aéreas para voltar para casa.
O final daquele Domingo, não poderia estar mais recheado de emoções. Cheguei em casa pouco antes da meia noite, cansado, sem banho e morrendo de fome. Peguei uma gripe para completar. Minha mãe queria todos os detalhes. Os relatórios levaram uma semana. A promessa feita de levá-la para ver um GP, ainda não foi cumprida. Mas quando acontecer, não será por agência de turismo, e não será no Setor A... por melhor custo benefício que seja, tomar sol e chuva por nove horas é castigo demais!
Esta foi a primeira e única vez que pisei em Interlagos.
Os demais GPs de F1 foram devidamente assistidos no conforto do sofá!
Um dia, espero ter condições de ver uma corrida ao vivo novamente.
Mas certamente, será com melhores condições!

Carpe Diem!


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