sexta-feira, 4 de março de 2016

Desvalorização Real e Monetária do Trabalho ao longo dos Anos

Friday´s Tales #3

Bom dia habitantes do planeta azul, Happy Friday aqui no árido solo do Red Planet Ex PEA!
Chegamos a mais uma sexta, feliz, dia do "Pay Day do InSs".
Quanta alegria e emoção em um dia só...
Sarcasmos à parte, iremos logo de cara ao nosso terceiro conto das sextas-feiras.

Dizem que o trabalho enobrece o Homem, sua alma, seu caráter...
Mas o que dizer do mercado de trabalho e da conjuntura, quando estes dão as mãos, para afundar o valor do trabalhador, cada vez mais, ao longo dos anos? Dizemos apenas que: "Shit Happens"... Isso mesmo, são as coisas da vida. Tudo perde valor com o tempo, inclusive e especialmente, o trabalhador. Ele deprecia, envelhece, perde qualidade, portanto perde valor, evidentemente! Todos dão graças a Deus, quando se aposentam, menos o Governo que tem que pagar seus salários, e também, os pobres pensionistas que recebem um mísero Salário Mínimo, e ainda podem estar precisando sustentar a família...
Voltaremos alguns anos no tempo, para ilustrar melhor, como o trabalho sofre menosprezo monetário em movimentos constantes, uniformes e retilíneos! Novamente, tratamos de um caso verídico, grande novidade... pois são memórias deste que vos escreve! Minha primeira e grande desvalorização moral, profissional e monetária ocorreu não em forma de demissão, mas como um insulto à decência. Era um Analista de Sistemas contratado na Companhia de Processamento de Dados do Estado no RS - Procergs. O ano era 2003, a forma de trabalho era a famosa Terceirização, sem o menor vínculo empregatício.
O lado bom, era não pagar impostos retidos na fonte. Por si só, uma grande alegria. Portanto, um Analista em 2003, ganhava R$ 3.200,00 por mês. Era um bom salário. Livre de impostos, melhor ainda. A primeira grande maldade salarial veio em Setembro daquele mesmo ano. Por decisões políticas, afinal se tratava de um órgão público, a empresa não poderia terceirizar mão de obra que representasse o seu principal ramo de atividade. O triste resultado foi que todos os contratinhos avulsos tiveram que ser transformados em CLT. E o salário ó! Foi cortado pela metade, em termos reais. Fomos distribuídos em algumas empresas, e sub-contratados por estas. Meus três mil viraram R$ 2.200,00 em folha, o que depois das mordidas e malefícios da CLT, restaram R$ 1.600,00.
 Exatamente a metade do salário anterior, para continuar trabalhando no mesmo cargo, empresa, função, mesa, computador, olhando para a cara da mesma chefe... Foi um inferno! Aquela foi a minha primeira experiência com o "Rebaixamento" profissional! Por meses, fiquei me sentindo um profissional de "Segunda"! O impacto foi tão negativo, que pela primeira vez, e última, deixei meu lado profissional interferir no lado pessoal. Resultado foi um namoro encerrado por e-mail... Minha ex simplesmente não suportou meu mau humor em todos os finais de semana entre Outubro de 2003 e Janeiro de 2004. Mas como dizem, há males que vem para bem! Fiquei mesmo insuportável, com os efeitos de ter a renda mensal cortada pela metade, e as dívidas aumentando!
Foi um belo aprendizado monetário, sobre como não se deve gastar mais do que seu salário, somando limite de conta corrente mais cartões de crédito! Parece que apenas levando na cabeça, é que as lições são mais eficientes! Finalmente em Março de 2004, foi minha então chefe na Procergs, quem perdeu a paciência com a minha cara amarrada diária. Foi minha primeira demissão justificada por comportamento, e não por términos de projetos ou reestruturação de departamentos. E também seria a última dispensa por motivos desta natureza. Admito que foi bom, pois parei de me sentir desvalorizado. Era melhor estar sem emprego, do que ter que trabalhar no mesmo lugar, com metade do salário. Parecia um castigo sem fim!
Ainda no mesmo ano, consegui novos empregos, com salários um pouco melhores, mas a marca dos 3 mil não foi atingida novamente! Já era um sinal de que as empresas estavam reduzindo as faixas salariais do setor. Já estávamos vivendo em conjunturas difíceis. Após novo período entre empregos, surgiu uma luz no fim do túnel. A dona IBM, em Outubro de 2005, oferecia um atrativo salário de R$ 4.250,00 por mês. O pequeno inconveniente, era a mudança de Porto Alegre para Campinas... mero detalhe. Por absoluta necessidade, aceitei o desafio. Ironia do destino foi que após dois meses de trabalho, já quase totalmente instalado na nova cidade, me ofereceram R$ 5.000,00 para trabalhar na Dell, dentro da faculdade Puc... Apenas lamentei o fato de não terem me chamado antes, e vida que segue.
Lições aprendidas, maior maturidade, e veio um novo rebaixamento! Desta vez, graças ao Governo cretino e sua propaganda barata de geração de "Novos" empregos em 2007... Meu contrato com a IBM era de prestação de serviços como terceirizado, emitindo notinhas mensais. Agora, teria que abrir mão do famoso PJ para ser CLT. Grande emoção, seria então um funcionário oficial da Big Blue. Big Shit isso sim! Uma lição para os profissionais mais jovens. Ser funcionário de uma multinacional, não quer dizer que você é uma mão de obra qualificada ou excelente! Muito pelo contrário! A realidade é que as grandes corporações americanas e européias, só instalam suas filiais por aqui, por redução de custos, incentivos fiscais, e mão de obra vagabunda e barata!
Desta vez, a redução salarial foi menos violenta... de R$ 4.250,00 para R$ 3.800,00 em folha, o que com as mordidas, sobraram R$ 2.800. Viva o Governo do Sapo Barbudo! Pelo menos naquele ano eu estava em condições saudáveis de gastos. E soube lidar muito bem com a nova desvalorização salarial! Mas claro que a situação irritava da mesma forma que em 2003... O amadurecimento fez com que a situação fosse bem gerenciada. A partir daquele ponto, não tivemos aumentos salariais. Apenas os famosos dissídios. Ao final da aventura com a empresa, em 2012, o salário era de apenas R$ 4.890,00...
Chegamos então, aos dias atuais, para concluir nossa série de dados salariais, em reta totalmente decrescente e indecente! Os profissionais de hoje, valem menos em termos salariais reais, são mais exigidos por acúmulos de funções, as vezes até com desvios, e ainda tem que apresentar o perfil de "Coxinha"! Ontem, recebi uma proposta, ainda em análise por parte da empresinha Big Shit Blue, para um cargo de Analista Programador, como terceirizado novamente, com salário de R$ 4.000,00! Realmente, o mundo dá voltas. Em 2005, entrei lá como terceiro, valendo R$ 4.250,00... Agora, em 2016, mais de DEZ anos depois, eles oferecem 4 mil reais.
 Resumindo o quadro de total desvalorização de mão de obra qualificada, verificamos uma total estagnação salarial em DEZ ANOS! E como dizem em vários cantos, que a crise está pegando, temos que refletir muito sobre carreiras, planos, estudos e vocações. Afinal, quando você entra em uma empresa, pensa primeiro no retorno de seu trabalho, seu investimento em estudos e dedicação à uma carreira! Mas onde fica a valorização de nosso capital intelectual? Pink Floyd sempre esteve certo... "All in all you're just another brick in the wall"...
Chegamos ao fim de mais um de nossos contos de sexta-feira.
Novamente, um relato de fatos reais, para ilustrar uma realidade triste de nosso país.
Seja qual for o setor, nossa mão de obra, com muito custo, chega a ser qualificada.
Mas estamos longe de receber reconhecimento, sermos valorizados.

Nosso poder aquisitivo vai se perdendo ao longo dos anos.
Pensar em plano de carreira, com este modelo empresarial?
Parece piada.
São como aqueles contos de fada, apenas para os filhos acreditarem...

Carpe Diem! 

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