sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Happy First Friday 13th Of 2017

Friday´s Tales #20: One of these job´s interviews

Bom dia aos ilustres observadores, we are the Red Planet Ex PEA!
Diário de Bordo Estelar #585 chegando feliz e contente por esta Sexta 13!
A primeira do ano!
Tamanha animação resultou no retorno, após 6 meses, dos contos das sextas.

Inicialmente, os contos tinham o propósito de encerrar a semana com algo diferente.
Eram dois propósitos: exercitar a narrativa livre, e tornar a sexta mais interessante.
A realidade de raladão fez com que nem todas as sextas fossem animadas.
Portanto o exercício de contar histórias se tornou um pouco mais raro...

Uma entrevista diferente
Era um ano difícil, não exatamente como o de 2016, mas bem complicado. Momentos de "in between jobs" são normais na vida profissional. Os mais experientes sabem muito bem como isso funciona. Com a experiência, vem a calma necessária para lidar com os momentos mais difíceis. O ponto mais crítico, ao menos assim fica a impressão, ocorre quando estamos lidando com o problema pela primeira vez. Nossa criatividade se esconde atrás do medo e insegurança. A sensação de que o futuro está em risco, causa um pânico enorme em qualquer pessoa inexperiente ou despreparada.
Aquele ano realmente foi um pesadelo. Logo no primeiro mês, um relacionamento de dois anos havia sido encerrado por um e-mail de duas páginas. Ironia foi o fato de que a pessoa em questão, era incapaz de escrever mais que um parágrafo em seus raros e-mails. Nossas comunicações eram sempre por telefone, graças aos pacotes promocionais para celulares de mesma operadora. Como dizem: de graça até ônibus errado... Olhar para trás torna mais fácil a compreensão dos acontecimentos e sua lógica. Um problema no trabalho, repercutiu tão negativamente na vida pessoal, custando um namoro.
Não foi surpresa alguma, que dois meses depois, veio uma demissão esperada e até merecida. Não soube lidar com uma situação de "rebaixamento" de salário, e perdi completamente o tesão pelo trabalho. Naturalmente o mau humor diário não foi tolerado por muito tempo. Ter seu salário cortado pela metade, devido a mudança na forma de contratação, não é algo agradável para os marinheiros de primeira viagem. Não era meu primeiro emprego, mas foi a primeira vez que senti o gosto amargo da desvalorização salarial. Aprendi muito com a situação, pois soube lidar com aquele problema, anos mais tarde quando enfrentei situação idêntica.
Interessante lembrar do tempo em que a recolocação era dinâmica. No mesmo ano, fui contratado por três empresas diferentes, em localidades diferentes. As entrevistas eram frenéticas! Chegaram a ser duas por dia em algumas ocasiões. O mercado era atraente, meu currículo era bem apreciado. Por vezes era até um problema. A primeira empresa que me contratou após a demissão em março, o fez com receios. A menina do RH não queria me contratar pois acreditava que eu iria achar vaga melhor em poucas semanas. O pessoal do TI passou por cima da avaliação dela e me contratou. Coisas da vida... Lembro do olhar de raiva dela, quando pedi demissão dois meses depois... Nos encontramos no elevador em meu último dia na empresa, e ela me dizia: "Eu avisei para todos eles, que você iria achar outra vaga melhor em poucos dias!".
O mercado tem destas coisas. Empresas podem nos tratar como meras engrenagens. Profissionais podem fazer leilões com sua capacidade intelectual. Oferta e Demanda Baby! Todos temos que saber o nosso valor e lutar por nosso espaço. Não somos mercenários por causa disto. O pecado foi ter acreditado na competência de pessoas erradas. Pedi demissão em caráter urgente, pois me chamaram prometendo o dobro do salário, para início imediato. O tempo estava passando, as contas eram grandes, ainda estava sofrendo os efeitos negativos da demissão anterior.
Um cálculo simples para ilustrar o como não se deve gastar sua grana. Se o seu salário foi reduzido pela metade, pare imediatamente com os gastos! Fiz o contrário... A nova contratação com o salário reduzido me presenteou com dois cartões corporativos. Ambos com limite quatro vezes maior que minha nova renda. Cometi a estupidez de estourar os dois cartões. Portanto não era o momento de ficar sem trabalho! Ao chegar no meio do ano, ainda devendo contas do ano anterior, era necessário buscar salários maiores. Apesar das cores vermelhas dos extratos bancários, a situação era gerenciável. Claro que os juros dos bancos agradeciam muito!
Neste quadro perigoso de dívidas crescentes, uma nova oferta de trabalho parecia ser a salvação do ano. O problema é que certos gerentes de projetos, contam com o ovo naquele lugar da galinha, antes de ter a posse da mesma! Pedi demissão para uma vaga em um banco, onde o projeto não havia sido aprovado... Novamente uma situação inédita em minha vida. Onde iria imaginar tal coisa? Uma pessoa me entrevista, me seleciona e na hora de começar a trabalhar no projeto, no 14º andar do banco, tive que ouvir do segurança, que não poderia entrar, pois meu projeto não existia... Viva a terceirização e a prostituição do mercado de trabalho!
Foram meses sombrios entre julho e setembro, pois fiquei cobrando providências da empresa que me contratou sem ter vaga para me alocar... E não me pagaram salário por não ter contrato fechado com o cliente... Definitivamente não se pode confiar em ninguém! Era este o meu estado de espírito naquele ano. Perdi totalmente a crença no ser humano. Para cada resposta de vaga ou entrevista, minha postura havia mudado radicalmente. Passei a não acreditar em recrutador algum, empresa alguma. Todos eram culpados e mentirosos até que provassem o contrário.  Outubro havia chegado, com a pior das expectativas.
Eram três empresas com processo seletivo em andamento. Até estava com certa animação, mas a desconfiança era maior. As contas estavam todas atrasadas. Telefone havia sido cortado, internet também. Estava perto do limite de 90 dias para a luz ser apagada de vez... Tv por assinatura ainda resistia bravamente. Ao menos comida ainda não faltava. Novamente naquele ano, surgiu outra experiência inédita. Para enviar dados para uma das vagas, precisava utilizar um e-mail. Lá fui com um disquete. Isso mesmo! Não era tempo da febre dos pendrives. Era um disquete de 5 1/4 azul, com dados importantes!
Estavam ali o meu currículo em duas versões, português e inglês, e mais uma versão em formato de projetos, conforme solicitação de uma consultoria. Mais dois formulários com uma matriz de conhecimentos, etc. Tudo aquilo deveria ser enviado para o e-mail deles, com urgência. No bolso, haviam R$ 1,50 em moedas. Era o preço para utilizar a internet em um dos computadores de uma lan house próxima de casa. Ao menos não estava chovendo naquele dia. Estava apreensivo até para digitar naquele computador. Com receio de usar meu e-mail e alguém roubar a minha senha, e outra série de paranoias.
E-mail foi enviado com sucesso. Estava achando tudo aquilo muito estranho. Não era o meu computador de casa... não era a minha casa... Não era a minha rede, tudo era suspeito, desconfortável, diferente não de uma forma positiva. Mas foi aquilo que deu início à ultima entrevista daquele ano. A entrevista que seria a mudança de tudo. Uma semana havia se passado. Eu não poderia ver minha caixa de e-mail. A única forma de comunicação que eu tinha, era meu celular em modo "pai de santo: só recebe". Eram dias angustiantes pois ficava pensando até quando iria a paciência do proprietário do apartamento, com alguns meses de atraso...
A única coisa que me tirava de casa era a caminhada em uma praça próxima. Em uma delas, já no caminho de volta, o celular toca. Lembro de ter atendido sem qualquer emoção ou expectativa. Foi algo totalmente mecânico. Era uma consultoria, aquela do e-mail da lan house. A moça me questionava se tinha interesse em fazer uma entrevista por telefone, com o gerente de um projeto. Ela queria saber se havia problema em conversar em inglês, pois a pessoa iria ligar de New York... Sequer um frio na barriga pintou. Eu disse que não teria problema algum, mas avisei que estava sem telefone. Não poderia fazer a ligação. Ela disse que não teria problema algum, Marcou data e hora.
 Era quase fim do mês. Já estava irritado pois nenhuma das outras empresas que eu esperava haviam retornado. Uma delas era a Dell, dentro da PUC, onde eu estava com a matrícula trancada por falta de grana. Se a Dell me chamasse, teria a faculdade paga, e ainda iria passar o dia dentro do campus. Era o sonho de consumo! Eu estava indo bem nas fases do processo deles. Mas paciência. Não adiantava ficar nervoso ou com raiva. Não havia dormido bem na noite anterior à entrevista com o gerente americano. A empresa era grande, uma das quais eu sonhava em trabalhar, quando mais jovem.
O horário era 12:00. Logo percebi que naquela empresa grande, havia a despreocupação com o fuso horário, e muito menos com nosso período de almoço. A comida iria esperar o final da entrevista. Era um almoço diferente. Era o final da geladeira. Nada mais de carnes, peixes ou frangos. Dali para frente seria arroz com farinha, como diz a expressão. Naturalmente minha cabeça não iria estar no lugar para fazer porra alguma de entrevista. Mas não tinha para onde correr. O telefone tocou pontualmente às 12:05... Segurei aquele fone com as duas mãos, quase o torcendo e quebrando. Pensei comigo: é agora porra!
A moça conversou rapidamente comigo, avisando que iria passar a ligação para o americano, e a conversa seria totalmente em inglês. Não era a minha primeira vez com o idioma, mas era a primeira pessoa estrangeira que me entrevistava para um emprego. E logo naquela empresa, logo naquela situação em que me encontrava... Bela hora para aparecer o maldito frio na barriga. Ao menos o local da entrevista era o mais seguro e confortável possível: a minha cama! Estava sentado de costas para a janela, com cópias dos documentos que haviam sido enviados para a consultoria. A conversa foi cordial e até simpática. Fiz questão de responder a todas as perguntas e comentários feitos pelo gerente.
A organização da entrevista seguiu um roteiro elaborado pelo próprio gerente. Utilizamos os formulários que eu havia preenchido e enviado para a consultoria. Desta forma ficava mais fácil para o entrevistador, poder ligar com pessoas de diferentes países, facilitando assim a transpor a barreira do idioma. Era como se já soubesse o que seria perguntado em seguida. Praticamente falei tudo que estava nos formulários, de forma mais elaborada e apresentando comentários e detalhes. Para minha surpresa e sorte, meu inglês havia acordado de longa hibernação em boa forma! 
Para a maioria das frases, terminava com um "Sure; I agree with you; Yes I understand". Ele pedia para que eu falasse sobre minhas experiências, sempre organizando-as sob projetos e resultados. Tudo foi muito objetivo, e após 45 minutos de conversa, ele disse que faria a última e mais importante pergunta. Segundo ele, era onde a maioria dizia "Não". A pergunta foi: "Are you up for this challenge? Do you want this Job?". A resposta poderia ter sido um simples "Yes", mas preferi dizer: "Yes, I believe that with my experience, I´m ready for this challenge!". 
 Ele agradeceu por minha paciência em responder a todas as perguntas de forma clara e objetiva, e disse que iria verificar com a consultoria, como proceder dali para frente. Me desejou um ótimo dia e assim foi concluída a última entrevista de 2005. Desliguei aquele telefone, e parecia que estava respirando normalmente pela primeira vez no ano. Era uma pressão e estresse acumulados de forma esmagadora. Atravessei o corredor e fui até a mesa da sala. Meu almoço iria ser preparado. Ainda ficava a sensação de que seria um frango ao forno derradeiro. Me sentia mais leve, ao mesmo tempo que ainda angustiado.
Quase no fim do prato, que mastigava lentamente, talvez pensando em todos os meses daquele ano, em todas as situações e escolhas erradas que haviam me levado àquela situação, toca o telefone. Pedi para que minha mãe fosse atender, pois eu não queria falar com ninguém. Era a moça da consultoria. A engraçadinha quis fazer terrorismo psicológico. Primeiro perguntou se eu havia feito a entrevista... Depois perguntou qual havia sido a minha impressão da conversa... Eu queria mandar ela tomar naquele lugar... Por fim, depois de enrolar muito, ela disse que eles estavam surpresos.
Ela queria saber o que eu havia dito de tão impressionante assim na entrevista. Pois o gerente havia ligado para ela imediatamente após a nossa conversa, dizendo que eles deveriam me contratar imediatamente, antes que outra empresa o fizesse! Segundo a moça, tal fato era inédito para eles. O normal era o cliente esperar duas semanas para dar a resposta final. No meu caso, bastou a primeira entrevista e pronto! Eles estavam surpresos e até empolgados. Parecia até que eram eles que estavam vivendo o inferno em que eu estava... 
 E foi com esta entrevista de 45 minutos, com um estrangeiro ao telefone, que fui trabalhar na tão famosa IBM. Naquele momento, eu estava muito mais preocupado em sair da situação ruim que estava, do que empolgado por ser a empresa A ou B que me contratara. Admito que anos atrás eu desejava muito entrar nesta empresa. Por algumas horas, sentei no sofá, pensativo e lembrando de quantas vezes passara na frente do prédio deles, em um bairro próximo. Mas eu queria entrar naquele prédio, e não no meio do mato chamado Hortolândia...
Até hoje, considero aquela como uma das melhores entrevistas que participei.
Foi de um profissionalismo, seriedade e objetividade altíssimos.
Poucas pessoas tem o mesmo tipo de abordagem que aquele gerente teve.
Certamente o passado militar dele colaborou muito para sua metodologia.

Foi muito bom poder trabalhar com os americanos.
Não posso dizer o mesmo sobre os brasileiros que são mão de obra barata na empresa.
A diferença é enorme.
Dica do Dia: Nunca sonhe em ser empregadinho de IBM´s, sonhe em ter a sua empresa!

Carpe Diem!



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